A Reforma em Portugal, Diogo Cassels

«A Reforma em Portugal terá surgido da necessidade sentida por Cassels, como por alguns dos seus colaboradores, Guilherme Dias da Cunha e outros, da justificação histórica da Igreja Lusitana e do protestantismo português em geral. Uma das críticas atiradas pelos polemistas católicos aos protestantes ou seguidores da «religião evangélica» era então, precisamente, a da sua alegada desnacionalização, pretendendo-se que estes defenderiam ideias religiosas importadas e alheias ao sentimento cristão tradicional no País.

A defesa dos reformadores esgrimia-se em dois planos: por um lado,sublinhando que os evangélicos pretendiam antes de mais recriar a igreja neotestamentária e dos séculos apostólicos, despindo-a dos rituais e «inovações do Romanismo»; por outro, e no quadro específico da corrente episcopal, a que Cassels aderiu em 1880, vincava-se o catolicismo teológico essencial da Igreja, recuando-se a fundação histórica da Igreja Lusitana à igreja portuguesa antes da sua «submissão a Roma» no tempo do primeiro soberano português. Uma acirrada crítica aos desvios do clero secular e aos vícios do regular, com particular animosidade em relação aos Jesuítas, e às práticas do catolicismo pós-tridentino,reuniam todas as sensibilidades do espectro evangélico-protestante, que nas últimas décadas de Oitocentos começava já a diversificar-se e a confessionalizar-se através de estruturas eclesiais próprias.»

António Manuel SILVA
“Algumas notas de leitura à Reforma em Portugal“, in A Reforma em Portugal. A história resumida já publicada na «Igreja Lusitana» nos anos de 1897 e 1898, revista, aumentada e dividida em cinco capítulos.
[Porto] : Estratégias Criativas, 2018.

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