1516: QUEM É LUTERO?

«Paremos um instante nesta data de 1516. Quem é Lutero? Um desses cristãos piedosos, tão numerosos então, a quem obceca a ideia de uma degradação profunda da Igreja? Vão exigindo com energia uma reforma completa do papado romano, do episcopado, do clero tanto regular como secular. E Lutero unirá a sua voz à deles?, diziam-no não há muito. A repulsa pelos abusos, o desejo de uma depuração, de uma reparação do velho edifício carcomido: eis o motivo que atribuíam a Lutero. Eis o que, para nós, não existe de forma nenhuma.

Reforma? Tratava-se na verdade para Lutero em trazer uma ou algumas modificações à ordem religiosa existente no seu tempo!

[…]

Que Lutero, nas quatro semanas precisas que passou, de fins de Dezembro de 1510 ao fim de Janeiro de 1511, na Cidade Eterna, tinha ficado mais ou menos perturbado em alguns dos seus preconceitos, ou chocado em alguns dos seus sentimentos pelos costumes, maneiras de falar, ou de se comportar que lhe eram profundamente estranhas: porque há uma diferença bastante grande entre Vitemberga e o Vaticano — eis o que pouco nos importa, e à história da Reforma ainda menos.

[…]

O que importa ao Lutero de 1505 a 1515 não é a Reforma da Igreja. É o próprio Lutero. A alma de Lutero, a salvação de Lutero. Isso apenas. E de resto não era essa a sua grande, a sua verdadeira originalidade?»

Lucien FEBVRE
Martinho Lutero: um destino. Amadora : Livraria Bertrand, 1976, pp. 63-65.

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